quarta-feira, 17 de junho de 2009

DE SALVADOR A RECIFE NORONHA E FORTALEZA

13 Out 2007 O diário do Entre Pólos.Esta primeira etapa de navegada durou 56 dias. Iniciou em Porto Alegre e terminou em Fortaleza, com 2.902 milhas de pura emoção e prazer, uma navegada compartilhada com a minha esposa e amigos tripulantes do mais alto nível, sem nenhum contratempo nem estresse, como sempre foi nestes longos anos e várias aventuras e sonhos que estão sendo realizados.
O Entre Pólos ficou em Fortaleza. O meu retorno ao Ceará está previsto para 2 de dezembro, para outra etapa, rumo ao Caribe.
Salvador a Recife01/09 - Fomos caminhar por Salvador, visitamos o Bahia Marina, que tem várias lojas, inclusive uma da Regatta. Retornamos perto do meio-dia. Depois de mais um churrasco no Centro Náutico da Bahia, botamos a casa em ordem, ou melhor, o barco; faxina e pequenos reparos.
À noite fomos jantar no Restaurante Amado para comemorar as 800 milhas do Rio a Salvador na companhia dos amigos Sílvio, Marco e Rui. Depois, o Marco e o Sílvio viajariam de madrugada para Porto Alegre.
02/09 - O Rui aproveitou o domingo para visitar uns amigos da Bahia. Passei o dia conversando com outros navegadores, alguns igualmente com o destino da Refeno. Estavam ali, também, vários estrangeiros; alguns de passagem, outros de chegada a Salvador. Com eles sempre se consegue boas informações.
03/09 - Acordei cedo. Fui procurar uma ferragem para comprar brocas, cola, mangueira e um registro para melhorar o respiro dos tanques de combustível.
No retorno, troquei os parafusos do banco de popa que, quando aberto, se transforma em escada, colocando outros mais grossos. Consertei a fechadura da porta de um armário de cozinha, que havia quebrado quando caiu sobre ela uma tabua de churrasco. Fiz um desvio com mangueira e registro para um novo respiro para o abastecimento de diesel. Ficou excelente! O Rui foi para o aeroporto às 11:00. Terminei o meu trabalho aproximadamente às 16:00. Chegou a hora de me arrumar para ir buscar a Cleuza no aeroporto. A saudade era de quem estava 24 dias fora de casa. Depois da peregrinação de 1h40min de ônibus urbano, cheguei no aeroporto às 18:40, praticamente junto com o vôo da Cleuza. Estávamos juntos novamente!
À noite fomos jantar, caminhamos entre as ruas do Pelourinho. Os próximos dias foram de passeios por Salvador; e de compras no supermercado, abastecendo para a próxima viagem. Aproveitamos para ir a Itaparica com a lancha de travessia. Lá descobri que aquele vento que havíamos pegado no dia 31/08, do Morro de São Paulo a Salvador, tinha destruído as pilastras do píer flutuante da Marina de Itaparica. Realmente, o vento era forte.
Retornei com a Cleuza para o Bahia Marina. Passamos pela loja da Regatta, pois precisava repor os fogos pirotécnicos. Tive uma surpresa. O vendedor me entregou uma caixa com um Relógio de antepara e um cartão com o texto: “Amigo Ademir: Para você não se esquecer da dieta da proteína. Bons ventos, dos amigos Silvio, Rui e Marcos.” Já está em um cantinho especial do barco. A semana passou muito rapidamente; tudo que é bom dura pouco; e o que é melhor, dura menos ainda.
07/09 - À tarde levei a Cleuza ao aeroporto. Chegou o momento dela voltar para Porto Alegre. A noite chegou o Nilson e seu filho Rodrigo, do veleiro Rekantu’s, para tripular a perna Salvador a Recife.
08/09 - Fiz a previsão do tempo e decidimos deixar a saída para o próximo dia. Fomos à praia do Farol da Barra. Depois de uns petiscos, sol e cerveja, passamos no supermercado para abastecer o barco. Voltamos ao CNAB. Organizamos o barco. Subi no mastro para trocar os cabos que regula o carda, um sistema instalado no suporte da antena do radar para nivelá-la quando o veleiro navega adernado. À noite fizemos um churrasco, para o qual convidamos o Nelson e a sua esposa (veleiro Salmo 33). Foi uma noite agradável, com bastante assunto. O Nilson, em 2004, tripulou o veleiro do Nelson na Refeno daquele ano. Depois de muita carne, cerveja, licor de Porto Belo, e uma cachaça Cravinho, comprada no Mercado Modelo, fomos dormir, pois deveríamos seguir viagem no dia seguinte.
09/09 - Saímos às 10:30 do CNAB. Quando passamos o forte São Marcelo, apareceu o primeiro Pirajá. E assim foi todo o tempo, um Pirajá atrás do outro. Quando passamos o farol da Barra, as ondas mostraram seu tamanho. O vento era forte e de SE. Vimos duas baleias saltando a uns quinhentos metros do barco. Uma hora de navegada e o barco continuava chacoalhando muito devido as ondas altas e desencontradas pela proximidade da costa. Olhei para o Nilson:- Ih, que cor diferente. Tu tá bem, Nilson?- Tô!Caminhou até a popa e chamou:- Andréééééééééééé!!!E, logo, melhorou. Então, especulamos: Foi a carne? A cerveja? A cachaça Cravinho? O licor de Porto Belo? Não!, concluímos: Foi o cafezinho! Durante a noite teve muita chuva e vento forte, às vezes na cara. Amanheceu com sol e ventos de Sul e SE, entre 15 e 20 nós. Tiro o rizo da vela grande e seguimos voando baixo. Na segunda noite, o vento continuou. Ás vezes aumentava e sempre com ondas altas. Chegamos velejando dentro do cais do porto de Maceió, às 7:00, do dia 11/09. O Entre Pólos navegou 280 milhas de Salvador até Maceió.
11/09 - Após organizar o barco, desembarcamos com o bote e fomos até o clube local de Maceió. O desembarque é ruim, muito lodo na praia; com a maré baixa fica difícil. Passamos o dia pelas praias da cidade de Maceió - Pajussara, Ponta Verde, uma maravilha de praia. À noite trocamos de fundeio. Saímos da âncora e pegamos uma poita do clube. Estávamos muito perto de um pesqueiro. Quando entrava a rajada, a corrente esticava e se aproximava muito. Sábia decisão! À noite, o vento apertou muito. O balanço do barco é provocado por aquelas marolinhas chatas, que entram de través. O fundo é de lodo, repleto de sacos plásticos. Se a âncora pegar plásticos, corre-se o risco de garrear.
13/09 - Saímos às 14:30 e chegamos em Recife às 9:30, do dia 14/09. Fundeamos em frente ao Pernambuco Iate Clube depois de uma bela velejada de 129 milhas. Comemoramos com um bom churrasco a bordo, esperando a maré alta para seguir até o Cabanga Iate Clube. Agora é só esperar o dia da Regata. Até este momento já passaram 2.220 milhas de água embaixo da quilha do Entre Pólos.
REFENO (Regata Recife - Fernando de Noronha) 15/09 - Muita faina a bordo. Tudo foi lavado com água doce. Eu, o Nilson e o Rodrigo fomos ao Porto de Galinhas, praia maravilhosa, com várias piscinas naturais, decoradas com uma incontável flotilha de jangadas de velas coloridas. Tudo se vende na praia, artesanato queijo assado, lagosta, camarão, ostras, sorvetes etc. O transporte de ônibus coletivo pinga-pinga é muito ruim. Levamos 1h40min para percorrer os 60 km do trajeto; e 2h20min para retornar.
16/09 - No Cabanga teve uma feijoada de confraternização muito boa. Encontrei o velejador Paulo Mordente e passamos a tarde de papo.
17/09 - As férias do Nilson e do Rodrigo estão terminando. Desembarcaram e seguiram viagem para João Pessoa e Natal, para aproveitar os últimos dias de férias nestas duas cidades.
No Cabanga tem muitos velejadores; são de todos estados e, muitos, são estrangeiros. Existe muito assunto e os dias passam depressa. A faina continua. Vou deixar tudo pronto até o dia 20, quando chega a Cleuza. Pretendo ir com ela a Porto de Galinhas.
20/09 - À 1:30 chegou a Cleuza. Aluguei um carro no aeroporto para facilitar nosso transporte. Aproveitamos este mesmo dia e fomos a Porto de Galinhas. Passamos o dia na praia. A tarde chegou o Sílvio Almeida (Veleiro Landeco). Começou a festa para os velejadores no Cabanga. Muita comida, bebida, danças regionais na confraternização dos participantes.
21/09 - O Tau Golin chegou às duas da madrugada. O Fernando desembarcou em Recife, mas vem para o Entre Pólos somente no dia da Regata. Ele esta com a família em um hotel. À tarde fomos ao mercado para abastecer o barco para a regata.
22/09 - Finalmente, o dia da largada chegou. Acordamos cedo. Depois do café, ajeitamos tudo para a regata. Enchemos os tanques de água e mais oito galões de vinte litros cada a contra-bordo de BE; um total de 990 litros de água potável. A maré começou a subir. Os vizinhos de box, do catamarã Stradivarius, saíram e ficou mais liberado para a nossa manobra. Saímos do Cabanga em direção ao PIC às 12:30. Fundeamos. Fizemos pizza. Já havíamos feito sanduíches para a viagem. Comemos rapidamente, pois faltavam 20 minutos para as 14:00. Fizemos o chekin passando em frente à platéia. Muita gente para assistir a largada. Uma verdadeira festa! Barco por barco sendo anunciado no alto-falante.
- Veleiro Entre Pólos, do Rio Grande do Sul, do comandante Ademir de Miranda.
Dada a largada, saímos em segundo, meio barco do primeiro. Entretanto, a menos de 200 metros velejando, já ultrapassávamos o veleiro Vadio. Assumimos a frente e lideramos a regata “no geral” por duas horas e meia. Eram cinco pelotões de aproximadamente 20 barcos, que largavam a cada vinte minutos. O último grupo era formado pelos barcos mais rápidos. O catamarã Adrenalina Pura largou neste pelotão. Foi fita azul em todas as Refenos em que participou. Após duas horas e meia na ponta fomos ultrapassados justamente pelo Adrenalina Pura, que, nesta Regata, viria a bater o seu próprio record, fazendo o percurso em 14 horas.
A noite chegou. O vento continuou firme de SE, com força de 18 a 25 nós. Com ele fizemos a melhor singradura da história de quatro anos e meio do Entre Pólos, hoje, com aproximadamente 15.000 milhas: 183 milhas náuticas nas primeiras 24 horas.
A noite foi tranqüila. A Cleuza dormiu bem. Passamos a sanduíches e frutas.
23/09 - O vento seguiu firme. Ao meio-dia fui para a cozinha. Saiu um arroz com lingüiça. Apesar do mar mexido, não sobrou nem um grão na panela. A turma boa de garfo, e sem marear... A noite chegou. Há muito estamos sendo seguidos pelo catamarã Carimbó. Progredindo lentamente, ele conseguiu nos ultrapassar e alinhou com nossa proa. Quando o vento aumentava chegávamos na sua popa; quando diminuía, ele se afastava. Esta situação se repetiu por várias horas, tornando mais divertido o velejo. Em Noronha conversamos com o já conhecido comandante Bené do Carimbó, rindo muito da cena entre um catamarã e um veleiro de aço.
24/09 - A madrugada seguiu tranqüila, com uma tripulação experiente continuando a tomar conta da navegação durante os turnos. Ao clarear avistamos a silhueta de Fernando de Noronha. E, às 7:38, cruzamos a linha de chegada, com o tempo de percurso de 41:08:11, para 304 milhas navegadas. A média de velocidade foi 7.4 nós. Chegamos em primeiro lugar na classe Aço. Em segundo ficou o veleiro Vadio (multichaine 37), com o tempo de 44:26:02; em terceiro, o veleiro Jamaluce II (Bruce Robert 43), com o tempo de 45:26:00. Na classificação geral ficamos em 36 lugar para um total de 64 barcos que chegaram ao arquipélago; 14 desistiram por alguma avaria ou motivo de navegação.
Ao cruzarmos a linha de chegada, a CR nos chamou pelo rádio:
- Veleiro Entre Pólos, aqui CR. Na escuta? Câmbio.
- Entre Pólos, na escuta.
- Bem vindos a Fernando de Noronha. Parabéns pela Regata. Aproveite bem a estadia. Aí gaúcho, então vai ter churrasco hoje?
- Com certeza, e estás convidado!
- Tem prenda aí a bordo, gaúcho?
- Tem a minha. A sua tem que trazer.
- É isso aí, gaúcho. Câmbio.
Ficamos bem fundeados na enseada do Porto de Santo Antônio. Depois da faina, muito papo no cockpit. Ficamos acompanhando a chegada dos outros barcos via rádio VHF. O Fernando foi de bote buscar a Marta e sua filha Vitória para comemorarmos com o já tradicional churrasco a bordo. À tarde mergulhamos e fomos dar um passeio em terra. E assim continuamos nos próximos dias: passeios, mergulhos, papos com os amigos. Alugamos um Bugüi e fomos ver passagem aérea para a Cleuza retornar a Fortaleza. Rodamos quase toda a Ilha, mas o melhor foi o mergulho na praia do Sancho.
27/09 - Noite de festa e entrega de prêmios. A turma do Rio Grande estava lá com vários barcos sendo premiados - o Entre Pólos, o Tech, o Jubarte, o Jamaluce II. Uma turma de peso vindo do Estado mais distante da regata. Foi um festão. Fomos anunciados com muita consideração pelo comodoro do Cabanga, o João Paulo (JP). Fernando de Noronha - Fortaleza29/09 - Deixamos a Cleuza na pousada com o Fernando e a Marta. Ela seguiria no sábado para Fortaleza, para nos encontrarmos no Marina Park.
Saímos rumo a Fortaleza às 17:30. Vela grande rizada, vento de ¾ SE, entre 20 a 25 nós. Toda a noite o vento se manteve o mesmo. Às 4:30 passamos a 4 milhas do Atol das Rocas. Resolvemos não parar. O mar estava muito mexido e era muito cedo para um contato via rádio. E o vento que continuava firme era uma maravilha. Parecia que o barco andava sobre trilhos. Pela manhã resolvi pescar. Menos de uma hora depois de termos lançado a linha fisgamos um atum de aproximadamente 12 kg. Tirei só o filé e, o restante, deixei para a natureza tomar conta. No meio-dia, o filé de atum foi para forno com batatas. Três glutões não conseguiram vencer o filé. Com o que sobrou o Tau fez uma massa com requeijão no outro dia.
A velejada continuou maravilhosa, com vento constante. No entanto, chegou à noite e o vento apertou. O mar ficou maior, com vento de SE, entre 24 a 30 nós. Continuamos com a grande no segundo rizo. Reduzi a genoa em 25%. E continuamos voando baixo. Em todo tempo, as ondas eram de ¾ de popa, possibilitando belas surfadas.
31/09 - Faltando 10 milhas para Fortaleza, uma recepção de golfinhos nos acompanhou por algum tempo. Já estava me comunicando via celular com a Cleuza, que está no hotel. A três milhas da marina vem um marinheiro nos guiar. Não seria preciso, pois, seguindo a lancha da marina, deu certo os pontos que havia colocado no plotter. A preocupação deles tinha motivo. Na véspera, um francês bateu com a bolina em um casco soçobrado. Quebrou internamente a caixa da bolina. Tem um navio encalhado próximo a entrada da marina. Ele está sendo desmanchado. A proa até a linha d’água já não existe. Os restos das cavernas pontiagudas somem com a maré alta. São vistas apenas na maré baixa. E - adivinhe-se! - não existe sinalização.
O Marina Park, onde atracamos, é um hotel com uma pequena marina bem estruturada, com molhes, abrigada de ondas. Entretanto, entra muito vento, como não poderia ser diferente. Em Fortaleza, o vento não pára. O preço de atracagem fica em um nível aceitável, pois é bem tranqüila, tem um gerente gente fina, prestativo e muito falante. Armando é seu nome.
De Fernando de Noronha a Fortaleza foram 374 milhas, em 47:30 horas, uma média de 7.9 nós de velocidade.Agradeço a todos que participaram desde Porto Alegre até Fortaleza. De Porto Alegre a Porto Belo, Daniel,(Veleiro Dom Munõs) Tau Golin, (Veleiro Caingangue) Flávio Fiala (que desembarcou em Rio Grande). De Porto Belo a Angra, João Pedro Wolf,(Veleiro Arcobaleno). De Angra ao Rio naveguei em solitário. Do Rio de Janeiro a Salvador, Silvio,(Veleiro Landeco) Marco,(Veleiro Mark Twain do Veleiros do Sul) Rui,(Veleiro Tatina). De Salvador a Recife, Nilson e o seu filho Rodrigo,(Veleiro Rekantu’s.Tripulação da Regata Recife - Fernando de Noronha, Cleuza, Tau Golin (Veleiro Caigangue) Sílvio Almeida (Veleiro Landeco) Fernando Maciel(Veleiro Planeta Água).De Fernando de Noronha a Fortaleza, Sílvio e Tau Golin.Agora estou em casa com a família, e muito feliz com a realização da viagem. Logicamente, estou cada vez mais contente com este barco maravilhoso chamado Entre Pólos. Como dizem os meus amigos e tripulantes Geib e Meriane: “O Entre Pólos mostrou, mais uma vez, de que aço é feito!”









Um comentário:

  1. Que viagem linda a de vocês, em Morro de Sao Paulo vejo muitos velejadores passarem para suas grandes aventuras.

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