Na saída do abrigo da Ilha o mar e o vento contra já mostrava sua cara, quanto mais avançava pior ficava, no contra vento a vela de fortuna nada ajudava, e o balanço era infernal, a velocidade muito baixa andávamos a 4.5 a 5 nós. Na nossa popa vinha o veleiro MM2000, logo o Ícaro que estava a bordo me chamou no radio avisando que a adriça da genoa havia partido e a vela rasgado, iriam voltar para abrigar do vento e das ondas e efetuar o conserto e depois seguiriam viagem, durante todo o trajeto tentamos nos comunicar via VHF, mas sem sucesso.
Na metade do caminho avaliamos a situação, o Fernando me perguntou se o Diesel chegaria a Salvador, e pela situação talvez fosse viável levar o barco a Recife e despachar via Navio para Rio Grande. Não, eu ficaria muito tempo aguardando para embarcar e o preço acho que seria elevado, com o tempo de espera para despacho documentação etc. Na minha opinião eu a motor chegaria mais rápido, mas fazendo os cálculos do nosso combustível, avaliando o gasto de ter arrastado toda a tralha por nove horas até Noronha e o contravento com ondas fazendo barco andar pouco e gastar muito, pensei em abastecer em Maceió onde chegaríamos no limite e também tem a péssima condição de desembarque, la temos que buscar Diesel de galões. Fiquei com a sugestão do Fernando, abastecer em Recife e organizar melhor o barco para seguir a Salvador. Chegamos a Recife às 21 Horas de domingo, depois de 56 horas navegadas fundeamos em frente ao Pic (Pernambuco Iate Clube). Recebi a ligação do Giacomin, falando que tinha um mastro sobrando e me sedia, era passar em Salvador e pegar, fiquei sem palavras para agradecer. Depois desta ligação a moral a bordo se elevou, animado jantamos a sobra do carreteiro que fiz em um mar, dentro do Barco que mais parecia uma centrífuga, tomamos uma cerveja e fomos dormir, eu custei para pegar no sono, apesar do cansaço, não parava de pensar no mastro e já fazendo planos para por o barco a navegar.
22/10, segunda feira, assim que a maré subiu fomos ao Iate Clube de Recife para abastecer, tivemos que catar até as moedas para encher os tanques, pois eles não aceitam cartões. Depois de abastecido fomos ao Cabanga, atracamos o Entre Pólos novamente no píer do amigo Emilio Russel. Começou a faina, troquei o óleo do Carter do motor desmontamos os dois enroladores de genoa, trocamos a vela de fortuna pela trinqueta que é menor, colocamos dentro da cabine de popa de BB os estais os enroladores as velas, virou um deposito interditando a cabine e deixando o convés limpo. À tarde fomos ao Supermercado, compramos o que precisava, e retornamos ao Cabanga. Tirei a previsão do tempo confirmando a nossa saída para o dia seguinte.
23/10, às 9.30 Horas da manhã com a maré enchendo saímos rumo a Salvador, na saída como mostrava a previsão o vento dava uma orça folgada, e o nosso mastro de fortuna já mostrava sua eficiência e porque foi feito, o balanço ficou mais confortável e o barco andava bem, ajudado por uma leve corrente a favor, deixando a tripulação animada. Chegando mais para o fim da tarde, o vento melhorou torcendo para través, também melhorando o mar com ondas menores e com um compasso uniforme, aí tá bom de mais, saindo café almoço e janta.
As cinco da tarde foi criado nesta viagem o momento Wafer, era a hora que abríamos um pacote e com muita conversa e planos devorávamos tudo.
24/10, segundo dia , o barco navega muito bem, chegamos a reduzir o giro do motor, para aproveitar mais o vento e economizar combustível. À uma hora da madrugada suou o alarme de superaquecimento do motor. Desliguei rapidamente e fui checar para ver a proporção do problema. O porão no cofre do motor estava imundo com cheiro de borracha quente, não achei o vazamento coloquei água novamente e seguimos. 45 minutos depois o alarme soou novamente, enchi de água liguei o motor e com a lanterna fiquei observando, o vazamento era em um selo no circuito fechado do trocador de calor, continuamos a motor até acabar a água. esperamos por uma hora para esfriar e fazer o conserto com Durepoxi. O vento de traves entre 12 a 15 nós fazia uma velocidade de 2.5 a 3.3 nós, com aquela armação de fortuna, achei ótimo, pois nunca ficaria a deriva, com poder de manobra. Feito o conserto esperamos mais uma hora para secar e seguimos nosso rumo.
Não dormi mais, fiquei preparando o barco para minha saída. Às 6.30 horas fui ao posto flutuante abastecer, pois o abastecimento começaria as sete, mas já havia uma meia dúzia de escunas de passeio aguardando para abastecer, resolvi ir ao Bahia Marina que para minha surpresa não tinha ninguém e o posto já estava funcionando.
Sai do Bahia marina e rumei para o Aratu, cheguei lá às 10 horas da manhã, um funcionário designado a me atender e liberar o mastro ajudou a por o barco na poita, pois teria que esperar a maré para encostar no píer flutuante e fazer a faina do embarque, a maré seria ao meio dia. Eu também estava esperando o Douglas que viria para soldar o cabo da antena do radar, para ver se funcionava e eu poder usar no meu retorno em solitário. Meio dia encostei o barco e com 11 funcionários trouxeram o mastro a bordo, enquanto eu amarrava ajudado por dois deles, o Douglas na cabine soldava o cabo, eu com a esperança de salvar o radar estava ansioso. Terminado o embarque voltamos a poita, fiquei organizando o convés para assim que terminasse a solda do cabo almoçar e seguir meu rumo. Depois de varias tentativas, nos convencemos que a antena não iria funcionar, mais um nó na garganta.
As 16 hora sai navegando na Bahia de todos os santos, tendo a previsão de bons ventos para os próximos seis dias. Meus planos era chegar sem paradas até Búzios, ou se for possível Ilha Bela. A saída foi muito angustiante, estava com um nó na garganta que não conseguia nem falar, se falava chorava, tudo veio à tona, a situação do barco, o radar que eu não podia mais contar, gosto muito de navegar em solitário, mas estava me vendo numa situação diferente, praticamente dependente do motor, e se ele também der problema? Será que só com a vela de fortuna eu consigo chegar a um abrigo? Mil coisas passaram em minha cabeça. Liguei para a Cleuza e ela com palavras de incentivo, falando comigo carinhosamente me dando força, desatando o nó da minha garganta, ela tinha razão, pois nestes anos navegando, passei por muitas situações boas, mas também muitos apertos, e as 1600 milhas que faltavam com minha experiência eu tiraria de letra.
A saída no farol da barra estava complicada, mar muito mexido desconforto total, mas andava muito bem, pois a maré estava vazando e formava uma boa corrente a favor. A Cleuza a cada meia hora me ligava, conversávamos bastante, me dava força e incentivo, eu ia descontraindo o mar ia melhorando, a vida abordo começou a ficar confortável, minha moral elevou-se, conseguíamos conversar até a madrugada quando fiquei sem sinal, como é bom ter apoio em terra, mesmo estando só, sinto todos a bordo.
28/10, Domingo, meu rumo Abrolhos. O dia amanheceu muito bonito, mar liso feito um lago, vento de 10 a 12 nós, e corrente a favor. Meio dia, fui para a cozinha e fiz um belo almoço, Picadinho de filé ao molho madeira, com bacon, cebola, orégano, e ervilha, para acompanhar arroz, ficou uma delicia. À tarde continuei com o tradicional momento Wafer, só que agora devorava o pacote sozinho. A noite segui tranquila, passando pelo traves de Belmonte consegui sinal de celular, liguei para a Cleuza e novamente conversamos até perder o sinal. Vento de 15 a 20 nós de traves andava muito bem, sempre superando as minhas expectativa.
29/10, Segunda feira, mesmo mar, vento continua traves 15 a 20 nós, meio dia esquento o que sobrou do almoço de domingo, dou uma geral a bordo para passar o tempo, às 14 horas deixo abrolhos por BB vendo as ilhas, com uma tremenda vontade de parar e curtir um pouco deste paraíso, mas não dá, se parar um dia corro o risco de não conseguir passar o cabo São Tomé, e estou louco para chegar em casa ver meus filhos, começar a organizar o barco para logo deixar ele pronto para navegar.
Mudo
meu rumo em 20⁰ graus, dando meu ponto na ponta do banco de São Tomé. A
navegada continua tranquila, à tarde normal igual ao dia anterior, inclusive
com o momento Wafer. Vou dormir cedo, meus turnos de 20 em vinte minutos, às
vezes me passo e soma mais alguns vintes. Às 23 horas acordo com movimento diferente
no barco, o vento rondou para a popa e o mar começou a levantar, as ondas logo
estavam em 2.5 a 3 metros de altura, continuo andando bem, agora descendo onda,
diminuo 200 giros do motor para ficar mais confortável. Volto a dormir mantendo
o relógio para cada 20 minutos acordar, agora é serio, tenho que acordar no
toque do despertar. 30/10, Terça feira, o mar baixou, ainda é cedo, mas o sol
começa a brilhar por entre nuvens, desço para a cozinha e vou fazer o café.
Ainda de manhã o tempo começa a mudar, ficou nublado e o vento que era Leste,
Nordeste, rondou para Norte, Noroeste, mudei a vela de amura, o vento às vezes
diminuía chegando a parar, em seguida veio para a cara entre oito e 10 nós.
Baixei
a vela seguindo só no motor, preocupado com a frente que poderia estar
entrando, resolvi mudar o rumo, dei um ponto onde iria passar a duas milhas do
traves de Vitória, talvez conseguiria sinal de celular e internet para baixar a
previsão e me atualizar, e talvez entrar em Vitória para esperar boas condições.
Em Salvador eu Havia mandado um email para o Weber pedindo os pontos onde ele
estava, pois conforme fosse eu iria arribar a Vitória.
Ao
meio dia desci para a cabine fazer o almoço, logo o balanço do barco mudou, o
vento Nordeste estava de volta, mesmo a duas milhas do traves de Vitória não
consegui sinal, nem celular nem internet, resolvi voltar a meu ponto anterior,
ponta do Banco São Tomé. Com a baixa profundidade o vento aumentou, agora com
30 a 35 nós, muitas ondas grades, 3 a 4 metros, mas curtas, a minha preocupação
era o mastro que passava uns quatro metros de comprimento a frente da proa, se
viesse a mergulhar na descida da onda, o mastro poderia afundar e me causar um
problemão, esta sempre foi a minha preocupação desde o embarque do mastro, pois
lembrava das altas ondas que eu poderia pegar na costa do Rio Grande do Sul. Pela
proximidade da costa de Vitória uma infinidades de navios fundeados e navegando
esperando entrar no porto, o alarme do AIS não parava de tocar, tive que
desviar de dois navios que estavam em meu rumo.
A
trinta milhas do banco São Tomé, o Hidráulico do piloto automático fez um ruído
estranho, desci e vi que novamente tinha afrouxado o solenoide, estava vazando
óleo, acionei o outro hidráulico, e desconectei o que vazou para não fazer
muito ar, diminuindo a mão de obra no momento de fazer a manutenção. 31/10,
Quarta feira, a duas horas de passar o São Tome, decido não dormir mais, pois
seria perigoso não acordar e derivar para o banco, e nesta região o movimento
de pesqueiros é grande. Passei o banco aproximadamente às três horas da
madrugada, incrivelmente não havia movimento de pesqueiros, acho que era pela
proximidade do feriado de finados. Quando começou a clarear o dia, o AIS avisa
que tem um rebocador na rota de colisão, checo e vejo que estou safo, em
seguida o rebocador me chama pelo nome do barco, vamos ao canal 14 para
conversar, me disse que me via no AIS mas não no Radar e não no visual, disse a
ele que o Entre Pólos era um veleiro de 42 pés, sem mastro eu estava a duas
milhas de distancia e passaria a meia milha deixando ele por BB, eu estava a
7.5 nós e ele 4.5 nós de velocidade, ele me avisou que ele estava rebocando um
modulo da Petrobras e para mim não cruzar pela sua popa, pois estava com um
cabo de 500 metros, agradeci e voltei ao 16, mais próximo ele chamou novamente
e disse que estava me vendo dizendo que meu barco era bem pequeno e sumia entre
as ondas e o radar dele estava setado para 12 milhas, por este motivo não me
via.
Depois
do café, comecei a organizar a cabine de popa de BB, teria que tirar toda
tralha que Havia para melhorar meu acesso, pois seria o único jeito de sangrar
o Hidráulico, deu uma canseira tirar aquela montoeira de estais com esticadores
e acomodar no porão, e as velas e outros equipamentos onde coubesse. Faltando
40 milhas para o farol de cabo frio, quando o vento mudou foi pra cara, baixei
minha velinha e comecei a avaliar a minha situação, mudei meu rumo para Búzios,
novamente atrás de sinal de internet e celular.
Bem longe ainda de Búzios
consegui sinal, liguei para a Cleuza, falei sobre meus planos, vou tirar a
previsão se não der para seguir paro em Búzios, conforme a previsão vou ao Rio
de Janeiro, ou a Angra, paro e espero, mas o destino é Ilha Bela, se o tempo
permitir. Baixei o Grib, ele me dava contra vento fraco, e as vezes aumentando
indo de oito a dose nós, todo o tempo o VHF anunciava visibilidade ruim,
nevoeiro naquela região com baixíssima visibilidade, liguei ainda para o Dieter
(veleiro Arachane) para ver mais sobre o nevoeiro. Decido seguir talvez vá
dormir pouco, mas se tudo der certo chego a Ilha Bela. Contornei o Farol de
Cabo Frio ainda na luz do dia, coloquei um ponto a 12 milhas do traves do Rio
de Janeiro para safar as ilhas e ficar fora dos pequenos pesqueiros, para os
navios estava armado com o AIS, aparelho maravilhoso que nunca falhou. Conforme
chegava a noite o vento ia embora e o nevoeiro chegava.
Coloquei
o holofote a mão e às vezes usava em noventa graus BB e BE para sinalizar, às
10 horas da noite passei pelo traves de BE da corveta Niterói da Marinha
Brasileira, ela vinha chegando pra cima de mim, eu estava a sete nós e o navio
a cinco, de repente ele abriu a buzina, chamei no VHF perguntei qual a manobra,
pois ele estava vindo para cima do barco, me disse que não estava me vendo e
estava buzinando para os pesqueiro ver ele e evitar abaloamento, disse a ele
que eu deveria estar no seu AIS, acho que estava desligado. 01/11, Quinta
feira, noite e madrugada cansativa dormi pouco, por sorte pouquíssimos
pesqueiros.
O
mar cada vez mais tranquilo, vento fraco na cara, mas não atrapalha. À tarde
nas proximidades da Ilha Anchieta o vento apertou e começou a chover e esfriar,
de normal só o momento Wafer as cinco da tarde. As 20.30 horas cheguei ao Iate
Clube de Ilha Bela já escuro. Chamei no Radio e logo vieram dois funcionários
me dar apoio, gentilmente vendo a minha situação e o perigo de navegar por
entre as poitas com aquela carga no convés, me rebocaram e amarram o Entre
Pólos em uma poita. Depois de 874 milhas e 122 horas desde Salvador, pude
sentir o silêncio e ver meu rico motor em um descanso merecido, a noite mostrava-se
tranquila, jantei e apaguei.
02/11,
sexta feira, Bem cedo após o café, fui resolver o problema do Hidráulico do
piloto automático, não era o mesmo parafuso do ultimo vazamento, fiz o aperto e
comecei a sangrar para remover o ar do cilindro. Este hidráulico é novo acho
que veio frouxo de fabrica, pois o antigo não deu problema, só depois de 20.000
milhas. Resolvi desistir e fazer o serviço navegando, pois em um descuido virei
o frasco de óleo e a Kaka foi grande, também teria que comprar mais óleo. Este hidráulico
instalei de reserva, só estava usando para ajustar e deixar perfeito para uso
se fosse necessário, vou continuar usando o oficial. Depois de tirar o óleo do
corpo me arrumei chamei o vai e vem do clube e desembarquei. Fui ao posto de
abastecimento para ver como atracaria, pois com mastro sobrando na popa e na
proa seria complicado, conversei com os funcionários explicando meu problema e
eles ficaram de auxiliar na atracação. Fui a livraria comprei dois livros
náuticos e um DVD, fui no mercado comprei o que faltava, almocei no Restaurante
Cheiro Verde, e retornei ao barco. Larguei a poita, como havia combinado
atraquei no posto abasteci diesel e água, dando tudo certo como planejado.
Às
13.30 Horas ainda com tempo nublado e com vento ainda contra, mas fraco, saí
rumo a Porto Belo, passei uma mensagem para o Fernando e ele retornou não
confirmando seu embarque que seria em Porto Belo. Liguei para o Dieter e ele
aceitou me acompanhar de Porto Belo a Porto Alegre. A navegada segue tranquila
mar baixo vento fraco de traves, nada de pesqueiro, primeira noite o céu abre e
fica muito claro pois a lua estava grande. 03/11 sábado, continuamos na mesma
tranquilidade, o motor não reclama e segue levando o Entre Pólos para seu
destino, mesmo assim confesso que às vezes me preocupava imaginando ficar
empenhado, pois nunca senti tanta pressa de chegar em casa quando estou
navegando, mas tudo me ajudava, o mar, o vento, tudo estava a meu favor, como
se fosse por encomenda.
Resolvo
fazer a manutenção do hidráulico, depois dou uma geral no barco, tudo segue
como quero, vida normal a bordo almoço, momento Wafer, e janta. As onze horas
da noite desisto de dormir, agora tenho que me manter acordado, pois com a
proximidade de terra e próximo a Itajaí começa a aparecer pesqueiros e navios..
04/11 domingo, às 4.30 horas da madrugada jogo ferro em frente ao Centro
Náutico de Porto Belo. Ansioso resolvo não dormir, vou para internet ver a
previsão do tempo, tudo conforme o previsto, e ainda melhor que a ultima
previsão para descer a Rio Grande, a saída seria depois do meio dia. Às 7.30
horas chegou o Dieter, busco ele na praia com o bote, tomamos um belo café da
manhã a bordo, e a faina começou, colocamos diesel dos galões nos tanques, troquei
o óleo do motor, revisei o mastro de fortuna assegurando que tudo estava
perfeito. Desembarcamos na praia e encontramos meu sobrinho Jeferson (Neco) eu soube
que minha mãe estava na praia, fomos na casa dela fazer uma visita, lá também
estavam minha irmã Anete e meu cunhado Valdir, fomos convidados para almoçar
com eles. Fui até minha casa ver se estava tudo em ordem, aproveitei para tomar
um banho, meu cunhado ainda nos levou de carro ao supermercado, facilitando
nosso trabalho. Almoçamos com minha família, nos despedimos, e às 12.30 horas
seguimos nosso rumo, Rio Grande.
05/11, segunda feira, amanheceu estamos no través de Ararangua a 20 milhas da costa, a neblina continua, mas logo o sol aparece, continua sem vento, o mar está liso com aquele aspecto oleoso, na situação que o barco encontra-se e nas águas que estamos esta é a situação mais adequada para nós, incrível, estamos na costa do Rio Grande do Sul. Com esta calmaria o barco navega em pé, decido o cardápio do almoço, contra filé no forno, arroz, batata, salada, e uma caipirinha para abrir o apetite, de sobremesa, sorvete Kibom de abacaxi e côco.
Desde Recife que pelas boas condições do mar, que todas as refeições estão sendo feito na mesa no interior do barco, com a mesa posta. Tudo normal à tarde, à noite mantemos a velocidade sem vento e mar liso.
06/11, terça feira, Hoje é aniversário da Tayná, o dia amanhece igual o anterior tudo muito tranquilo, a diferença é o calor, o sol está forte, a tarde um pássaro pega carona em cima do novo mastro, em seguida vem outro e mais outro, quatro no total, e ficam por varias horas. Às 8.30 horas entramos na barra de Rio Grande, em seguida fundeamos próximo ao molhes, ligamos para nossas casas, consegui dar os parabéns para a Tayná, bem na hora de sua festinha.
Tirei
a previsão, vento NE de 10 a 15 nós, na cara, vamos ter que encarar, pois com
os dois mastros não da para atracar no píer do clube de Rio Grande. 07/11,
quarta feira, cinco e trinta da manhã seguimos rumo a Porto Alegre, maré
vazando contra, vento contra conforme a previsão, vinte milhas depois a maré
diminui ficando logo sem correnteza, antes de sair do canal da feitoria
almoçamos Pizza, logo após o almoço saímos da Feitoria e o vento foi
diminuindo, até próximo a Barra Falsa estava na maior calmaria, pena que durou
pouco, em seguida o vento voltou e as ondas começaram a deixar a navegação
desconfortável, ondas de um metro a um e meio, curtas e desencontradas, aqui na
lagoa não poderia ser diferente, às cinco horas da tarde tivemos o ultimo
momento Wafer, pois era o ultimo pacote, ainda bem que estamos chegando. Às 21
horas, próximo ao farol Cristovão Pereira o vento apertou, bem na hora da
janta, estava novamente me sentindo dentro de uma centrífuga. Quando havia
passado o Farol do Cristovão Pereira, entrou um vento de NE de 25 nós com
rajadas que calculo 30 a 35 nós, uma onda desencontrada estourou no costado do
Entre Pólos, jogando um turbilhão de água em cima do Bimini, tinha uma
correnteza de um nó a favor, andávamos em nosso rumo entre 6.5 a sete nós. Por
estarmos apenas com 3.70 metros de mastro, e por ser vento contra sem poder
usar a vela de fortuna, o barco com os mastros deitado em cima do convés, fazia
um balanço infernal, por segurança e por ter o único meio de propulsão o motor
que vinha a 19 dias me trazendo de Fernando de Noronha, e por estar perto dos
bancos da lagoa, conversando com o Dieter que me acompanhava desde Porto Belo,
achamos mais prudente parar no Birú, (Saco de Tapes) e com pouca visibilidade e
sem radar, pois a antena caiu com o mastro e se negou a funcionar, acertamos na
decisão.
Às
6 horas da manhã saímos rumo a Porto Alegre, com vento fraco até chegar a zero.
Antes de chegar ao farol de Itapuã, aproveitei e fiz o almoço, macarrão com
linguiça. O Paulo, (veleiro Riacho Doce), de sua casa chamou no VHF dando boas
vindas, gostei, pois fiquei sabendo que o VHF na distancia de 25 milhas estava
com boa recepção e transmição.
Enquanto
navegávamos no Guaíba, deixei o Dieter cuidar da navegação e entrei na cabine,
dei uma geral a bordo e deixei minha bagagem pronta para o desembarque, o
trabalho a bordo me ajuda a passar o tempo, pois a ansiedade da chegada é
grande, tomei um banho, o calor estava muito forte e o interior da cabine um
forno.
Às 15 horas
do dia 08/11, quinta feira, cheguei ao Iate Clube Guaíba, onde amigos me
aguardavam perto do guincho para ajudar a desembarcar os mastros, depois de
vinte dias, mais ou menos 2500 milhas sendo 70% em solitário. Agradeço ao
Dieter (veleiro Arachane) pela parceria de Porto Belo a Porto Alegre.